MAIS UM PEREGRINO... “Fui ensinado a não ter medo de nada, porque medo era coisa de gente fraca e sem coragem para viver. Depois me aconselharam dizendo que um pouco de medo “saudável” nos previne de decisões erradas e evitaria experiências desagradáveis. Neste fogo cruzado sempre tive dificuldade de me relacionar com o medo. Sempre lutei contra ele, tentei evitá-lo, o sufocar dentro de mim e até projetar o mesmo sobre os outros, mas ele sempre estava lá”
Um dentista certa vez me disse que ainda não tinha visto ninguém que ao sentar em sua cadeira não amarelasse. E olha que cadeira de dentista não tira a vida de ninguém, mas nos deixa em uma situação em que não temos o “controle” em nossas mãos.
Este talvez seja o maior alimento do medo, a nossa necessidade de controle. Quando perdemos a sensação de controle, logo se instala o medo porque mesmo não sabendo o que vem depois, nós temos a impressão de controlar nossas vidas. E qualquer situação que nos tire esta impressão leva-nos a casa do medo.
Dentro desta casa moram as nossas maiores angustias, ansiedades, inseguranças e tudo que tentamos driblar nesta vida. Mas a questão é que em algum momento da caminhada precisaremos entrar nesta casa, mesmo que não queiramos.Muitos entram na casa do medo com vários recursos. O pensamento positivo, a experiência, a fé, a cautela, a sabedoria, a religião e outros recursos legítimos.
Ninguém que entre nesta casa sai da mesma forma, porque ela funciona como uma fornalha que só deixa sair o que realmente importa. Ela nos desafia a deixar para trás todas as superficialidades que adquirimos para nos descarregar de cargas que nos atrapalhariam a conhecer lugares mais profundos.
No mundo de violência urbana, rural e até familiar em que estamos inseridos, não ter medo é uma anormalidade e falar em livrar-se dele uma utopia. Mas quando nos remetemos ao período da história em que seguidores de um revolucionário chamado Jesus Cristo não tinham medo de um império tão poderoso quanto o romano e em nome do que acreditavam, enfrentavam até a morte, o algoz que todos nós não queremos nem ouvir falar, pensamos e repensamos sobre o medo do medo e se de fato não há nenhuma saída para ele.
Que motivação eles tinham? Alguns diriam que foi o fanatismo religioso, lavagem cerebral, desejo por uma revolução política ou até outra motivação oculta. Graças a Deus que Ele nos deixou registrado grande parte dessa história na Sua Palavra. Nela encontramos vários recursos para enfrentar o medo. A fé, a coragem, a unção, a esperança, mas creio que nenhum desses recursos supera o amor.
Diante da luz do amor de Deus todos os recursos se curvam. “...o cumprimento da lei é o amor”. (Rm. 13.10). Com a certeza de que somos amados temos uma condição muito melhor para abrir a porta e entrar de mãos dadas com quem nos amou primeiro, assim enfrentaremos este gigante com maior dignidade porque: “No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor”. (I Jo. 4.18).
Olhando para esta realidade nos sentimos distantes dela, principalmente no mundo competitivo em que vivemos. Mas o Príncipe da Paz nos convida todos os dias para juntos saciarmos a nossa sede de justiça sem tomar o cálice da ira, da vingança e muito menos o do medo, mas o cálice da Nova Aliança! Nele encontraremos a redenção dos nossos medos.
Valdemar Santana
Mais Um Peregrino